Natal, 06/12/11.
Enquanto passa o passado, o presente
passa sem presentes, o futuro passa sem precedentes e chega sem pretendentes
... e a gente quase sem dentes para morder a vida que corrói ... e rói todas as
esperanças de desesperar o esperado sem desespero, e passa tudo também ...
Passa o desejo de se ter o que não
tem sem ser o que se quer ser ...
Passa o tempo que deixa nas têmporas
as marcas brancas de um passado que passou e deixou de presente um presente de
ausências ...
Passa a cor e o sabor de olhar o mar
e marear os olhos de lágrimas salgadas de alegrias tristes que se sobrepujam
aos anseios de sorrisos que também passam ...
Passa a avidez e a vida ávida de ávidos
desejos vis e viris que se estendem e distendem as tendências de alegria para
deixá-las distendidas, estendidas e inertes de alegres sorrisos de alegoria ...
Passa o encanto e fica no seu lugar
o desencanto de saber que o encanto foi e sempre será apenas por enquanto ... e
porque por encanto, se enquanta tudo o que a vida oferece (e toma em seguida).
Passa o desespero
e também passam na frente dos olhos
nus pernas bundas coxas peitos braços e costas que deixam apenas a esfera que
rola das encostas e cobre pernas bundas coxas peitos braços e costas que andam
pelas águas de areia ...
e fica a espera... e por isso
espero.
Espero poder esperar tudo que de
novo o velho ano traz e leva e leva e traz e nos deixa atrás de algo para
sentir, de algo para fugir, de algo para insurgir anseios de desesperados
desejos desejados em duetos carnais na beira do nada que assombra a sombra das
árvores que rodeiam o mundo mudo.
Silêncio.
Faz-se o silêncio para se escutar um
coração que bate no mundo.